92% dos cidadãos concordam que separar lixo para a reciclagem é uma obrigação da sociedade, por exemplo. Porém, apenas 30% dos entrevistados separam o lixo em suas residências.
Pesquisa realizada pelo IBOPE Opinião, de fevereiro a março de 2006 revelou que a destinação final dos resíduos sólidos urbanos representa o maior problema para os municípios (48%), seguida da coleta seletiva e reciclagem (24%), do tratamento e destinação final dos resíduos dos serviços de saúde (16%) e, por último, da limpeza pública (13%). Quase metade dos pesquisados (43%) utiliza-se de lixões no próprio município e 25% mantêm aterros controlados, também dentro do município.
Oitenta e três por cento dos municípios acham que os serviços de limpeza pública e destinação final dos resíduos sólidos devem ser solucionados de forma integrada. Porém, quase nove em cada dez gestores admitem não disporem de recursos para investimento no conjunto de atividades que compõem o manejo dos serviços de limpeza pública (resíduos sólidos urbanos e de serviços de saúde, coleta seletiva e reciclagem). Outro dado: 83% dos municípios consideram fundamental a existência de uma “tarifa social” para o saneamento básico, a fim de atender às populações mais carentes.
O Ibope também descobriu que os brasileiros sabem identificar as atitudes que podem melhorar a nossa qualidade de vida, mas nem sempre põem em prática. Onde jogar pilhas e baterias usadas? “Sei que não posso jogar no lixo, mas onde, você tá me pegando”, diz um jovem. Reciclar o lixo é importante? “Reciclagem é superimportante”, diz a administradora de empresas Daniela Padovani. Mas você separa material pra reciclagem? “Eu, em casa, não”, ela responde. Essa contradição entre o que se pensa e o que se faz é comum entre os brasileiros, quando o assunto é preservação do meio ambiente. Sabe aquela história: faça o que eu digo, não faça o que eu faço? 85% dizem que vale a pena pagar mais por um produto que não agrida o meio ambiente, mas apenas 52% realmente compram esses produtos.
Os consumidores têm as suas explicações. “Todos os produtos deviam não agredir o meio ambiente, hoje em dia. Acho que seria responsabilidade maior da própria empresa que fizesse um produto responsável”, afirma a engenheira Isabel Petrilli.
“A gente precisa saber onde vai devolver essa pilha, essa bateria, pra que depois não jogue no lixo normal e venha poluir os rios”, diz o estudante Flavio Porchat.
O responsável pela pesquisa avalia que o brasileiro, de maneira geral, está bem informado. Falta essa informação mudar a atitude. “Falta realmente, internamente, as pessoas reconhecerem que fazem parte de um sistema, que o comportamento dele tem impacto sobre o outro e desenvolver um respeito pelo outro”, acredita Nelson Marangoni, coordenador da pesquisa do Ibope.
O levantamento foi realizado com homens e mulheres acima de 16 anos, em todo o Brasil, entre os dias 20 e 28 de julho, para avaliar a percepção das classes A, B e C sobre assuntos ligados ao tema sustentabilidade. O estudo revelou o grau de consciência sócio-ambiental do cidadão e identificou que existe um grande distanciamento entre a crença e a prática de ações de preservação ambiental. Por exemplo, 92% dos cidadãos concordam que separar lixo para a reciclagem é uma obrigação da sociedade. Porém, apenas 30% dos entrevistados separam o lixo em suas residências.
Quando perguntados se concordavam que pilhas e baterias são prejudiciais ao meio ambiente, 85% dos entrevistados concordaram. Mesmo assim, 32% deles declaram jogar esses resíduos em lixo comum, ao invés de separá-los e descartá-los de forma ecologicamente correta.
O estudo também analisou a opinião da comunidade empresarial brasileira por meio de entrevistas com 537 executivos de 381 grandes empresas nacionais. A pesquisa revelou que 79% dos executivos e 55 % dos cidadãos já ouviram falar de sustentabilidade empresarial, sendo que os dois grupos possuem conceitos diferentes sobre a questão. Para os executivos, sustentabilidade empresarial está atrelada aos conceitos de responsabilidade social (59%) e preservação do meio ambiente (58%). Já para os cidadãos, o conceito está atrelado ao desenvolvimento de produtos (33%) e à solidez das instituições (23%).
Outras informações relevantes identificadas pelo estudo foram sobre as áreas em que as empresas pretendem investir nos próximos anos. De acordo com o levantamento, no futuro as organizações deverão aplicar grande parte de seu capital em tecnologia (62%) e desenvolvimento de produtos (60%). Treinamento de pessoal e projetos de responsabilidade social também serão áreas bastante expressivas dentro dos orçamentos (respectivamente 47% e 41%). Porém, quando o assunto é preservação ambiental, apenas 25% dos entrevistados afirmam que suas empresas investirão em projetos relacionados ao tema.
“O debate em torno do tema sustentabilidade é muito rico e ao mesmo tempo necessário em uma sociedade que só vai prosperar quando todos os relacionamentos se tornarem sustentáveis o bastante para apoiarem as iniciativas de cidadãos e comunidade empresarial. Para isso acontecer é preciso que, antes de tudo, todos entendam o conceito e a prática do desenvolvimento sustentável em sua plenitude e tenham atuação de valor internalizado”, afirmou Nelson Marangoni.
Dentre os problemas ambientais mais graves enfrentados pelas prefeituras, o saneamento e o lixo são dos mais sérios, urgentes e os que causam maiores seqüelas, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde da população. Em boa parte dos municípios, o tratamento de água e as redes de esgoto são de responsabilidade do estado, o que não tira do município o dever de zelar pela saúde o bem-estar dos cidadãos. É obrigação do Município cobrar do estado o cumprimento de suas tarefas, paralelamente à elaboração de programas alternativos de abastecimento e tratamento de água e sistemas alternativos de coleta e tratamento de esgotos, enquanto não chega as obras definitivas a serem realizada pelo estado.
O lixo já é outro caso, cabendo geralmente às prefeituras a responsabilidade pela limpeza urbana, a coleta domiciliar a destinação final. Cada uma dessas fases envolve muito funcionários e equipamento, acabando por se deficitário o serviço, devido a falta de recursos.
Entretanto, mais que um problema técnico, existe uma questão filosófica com relação ao lixo que produzimos. A população considera lixo como uma coisa suja e que deve ser colocada no lugar mais longe possível, num canto qualquer distante de tudo. Acontece que lugares assim não existem, e os vazadouros e aterros sanitários acabam agredindo a natureza e a própria população.
Por outro lado, a população não colabora com a limpeza da cidade, pois costuma achar que as ruas e praças são terra de ninguém, não têm dono, e portanto pode-se jogar papel de bala de sorvete no chão sem nenhum problema. As pessoas não percebem que as ruas e praças, ao contrário do que se pensa, têm muitos donos, pois pertencem a todos os cidadãos e contribuintes da cidade.
O que os ecologistas defendem é que o lixo não é coisa imprestável a ser jogada fora num canto escuro qualquer, mas, ao contrário, ode e deve ser reaproveitado, reciclando materiais como papel, metal, vidro, plástico e produzindo composto com o material orgânico. Claro que isso envolve diversas mudanças, não só nos equipamentos, pessoas e operação do serviço, como também com relação à mentalidade da população e dos administradores públicos. Não é à toa que é tão difícil mudar as coisas. A coleta seletiva do lixo pode ser um bom exemplo dessa nova filosofia. Após um trabalho prévio de divulgação e educação ambiental numa das rotas da coleta, a prefeitura pode coletar num dia apenas o material reciclável e, em outro, o material orgânico. O morador que não separasse o seu lixo não receberia a coleta. Aos poucos o serviço de coleta seletiva seria estendido às outras rotas até abranger todo o serviço. O material reciclável seria separado e vendido, e o material orgânico transformado em adubo. Com isso, a vida útil dos aterros sanitário seria multiplicada.
Fonte: Portal do Meio Ambiente